Pedra na Vesícula

A vesícula é o órgão responsável pelo armazenamento da bile produzida pelo fígado. Ela tem a capacidade de armazenar cerca de 50 ml de bile, lançados no duodeno após a alimentação, auxiliando na digestão e absorção dos alimentos.

Alterações de solubilidade da bile armazenada levam a precipitação de cristais de colesterol que se agrupam e formam a pedra ou cálculo da vesícula.

Cerca de 10% das pessoas (10 milhões de brasileiros) têm pedra na vesícula. Apesar de poder ocorrer com qualquer pessoa, algumas têm maior possibilidade, e os principais fatores da doença são:

  • Idade. Apesar desta doença poder acometer até crianças, ela aumenta com a idade e é mais comum nos adultos e idosos.
  • Mulher. As pedras da vesícula são mais comuns nas mulheres do que nos homens, principalmente nas que já ficaram grávidas devido a alterações hormonais que ocorrem na gravidez.
  • Obesidade. Pacientes obesos tem maior risco de formarem pedra que os magros. Perda de peso importante, como a que ocorre após cirurgia de obesidade, também aumenta o risco de formação de pedras.
  • Hereditariedade. As pessoas que têm familiares com cálculos possuem mais chances de ter esta doença do que os que não têm.
  • Raça. Brancos e índios norte-americanos tem maior predisposição que negros e asiáticos.

COMO A PEDRA(CÁLCULO) É FORMADA NA VESÍCULA?

A bile é produzida no fígado e é eliminada no intestino. A bile ajuda na digestão de alimentos gordurosos. Ela contém várias substâncias, entre as quais colesterol e pigmentos. Quando algumas dessas substâncias aumentam em quantidade na bile, elas atingem o limite de sua solubilidade e podem se depositar na vesícula formando cristais microscópicos. Com o passar dos meses e anos, estes cristais se agregam e fundem para formar os cálculos macroscópicos.

Existem 2 tipos principais de cálculos. O primeiro é formado principalmente por cristais de colesterol e são encontrados em 80% dos casos. Estes cálculos são amarelados e formam-se por um desequilíbrio nas taxas de lecitina, colesterol e sais biliares presentes na vesícula. O segundo tipo de cálculo mais comum é formado por bilirrubina. Estes são negros e ocorrem em pacientes que tiveram hemólise. O número, tamanho, forma e cor das pedras da vesícula são bastante variáveis. Algumas pessoas só têm uma pedra, enquanto outras têm mais de 1.000. Da mesma forma, as pedras podem varias de tamanho de 01 mm (grão de areia) até 10 ou 15 cm.

Outros locais do organismo, como o rim, a bexiga e o canal da saliva e o da lágrima também podem formar pedra (cálculos). Mas, as pedras desses locais são diferentes das pedras da vesícula e também são tratadas de forma diferente.

SINTOMAS E COMPLICAÇÕES CAUSADAS PELA PEDRA NA VESÍCULA

A maioria dos pacientes que tem pedra na vesícula nunca teve sintomas. Não existem dados médicos que permitam determinar quais pacientes terão sintomas. Entretanto, quando o paciente apresenta um dos sintomas, a possibilidade de repetir o mesmo sintoma ou apresentar uma complicação é muito grande. Os sintomas mais comuns são:

  • 1Cólica biliar – dor intensa no abdômen no lado direito ou na boca do estômago. Esta dor geralmente dura de 30 minutos a 2 horas, mas quando for mais prolongada pode indicar que está ocorrendo uma complicação (colecistite aguda). A dor ocorre pela obstrução da drenagem da vesícula pelo cálculo.
  • Náuseas (enjôo) e vômitos
  • Perda de apetite
  • Inflamação ou infecção da vesícula
  • Icterícia (amarelão)

COMPLICAÇÕES

A Possibilidade de uma pessoa apresentar sintomas ou complicações independe do número ou tamanho das pedras. Às vezes, apenas uma pedra pequena pode ocasionar complicações muito graves, como pancreatite aguda. As principais complicações são:

  • Colecistite aguda ( ¨vesícula supurada¨) – inflamação aguda da vesícula causada pela obstrução completa e persistente da drenagem da vesícula pelo cálculo. Necessita cirurgia de urgência.
  • Colecistite crônica – inflamação crônica da vesícula causada pela repetição de episódios de cólica biliar. Necessita cirurgia eletiva.
  • Coledocolitíase – migração do cálculo da vesícula para dentro da via biliar (colédoco) podendo causar pancreatite e obstrução com colangite. O cálculo pode ser removido por endoscopia ou por cirurgia de maneira eletiva.
  • Pancreatite – inflamação aguda do pâncreas causada pela irritação pancreática do cálculo presente dentro da via biliar. É uma afecção grave que necessita internação urgente.
  • Colangite – infecção da via biliar causada pela cálculo que obstrui completamente a via biliar. O paciente apresenta febre alta, dores intensas e icterícia (¨amarelão¨) importantes. É uma afecção grave e o cálculo deve ser removido por endoscopia ou por cirurgia com urgência.

DIAGNÓSTICO

O melhor método para diagnosticar pedra na vesícula é ultrasom do abdômen. A tomografia pode não mostrar as pedras em um grande número de pacientes servindo mais para o diagnóstico de complicação como pancreatite. A ressonância magnética e o ultrasom endoscópico são úteis para o diagnóstico de coledocolitíase. A cintilografia com DISIDA pode ser utilizada para o diagnóstico de colecistite aguda.

TODOS OS PACIENTES QUE TEM PEDRA NA VESÍCULA PRECISAM OPERAR?

Todos os pacientes que já apresentaram sintomas devem ser operados, porque a possibilidade de apresentarem outros sintomas ou complicações é muito elevada. A cirurgia deve ser realizada de maneira eletiva após a realização de todos os exames e avaliações pré-operatórias. Paciente que não apresentam sintomas e cujo diagnóstico de cálculo foi feito de maneira acidental podem ser operados ou apenas acompanhados. Esta decisão deve ser tomada após considerar alguns dados, tais como: idade, expectativa de vida, há quanto tempo paciente tem a pedra, presença de outras doenças que podem aumentar o risco da operação ou de ter crises de vesícula, profissão, vontade do paciente.

Local das incisões

TRATAMENTO

A única forma de tratamento da pedra ou cálculo da vesícula é a retirada da vesícula biliar (colecistectomia). Outros tratamentos, como litotripsia (“quebrar a pedra” com aparelhos especiais) e medicamentos para dissolver a pedra, não dão bons resultados e não devem ser usados. É importante lembrar que para o tratamento de cálculos renais a litotripsia pode ser utilizada.

Atualmente o tratamento cirúrgico eletivo da pedra da vesícula é muito simples, desde que o paciente não apresente complicações. A retirada da vesícula pode ser facilmente realizada por via laparoscópica na maioria dos pacientes (“operação dos furinhos”). Inicialmente, é injetado gás (gás carbônico) dentro do abdômen (barriga) para criar um espaço, onde o cirurgião poderá fazer a operação com segurança. Após a realização de 04 furinhos de meio a um centímetro, uma câmera de televisão pequena é colocada dentro do abdômen através de um dos furinhos para que o cirurgião e a sua equipe possam visualizar todo o abdômen em uma televisão. Os instrumentos (pinça, tesouras, material de sutura, etc.) são colocados através dos outros furinhos para ajudar a retirar a vesícula. Durante a cirurgia é realizada a injeção de contraste dentro da via biliar seguida da obtenção de uma radiografia. Este exame, chamado de colangiografia intra-operatória, serve para se verificar a presença de coledocolitíase ou de alguma lesão das vias biliares. A maioria dos pacientes fica internada no hospital somente 1 dia e pode retornar ao trabalho e realizar todas as atividades, inclusive esportivas, em 1 ou 2 semanas. Os riscos da operação são mais comuns nos pacientes que apresentam doença grave ou complicações, como colecistite aguda, icterícia, pancreatite aguda, no momento da operação. Nestas situações, a operação é geralmente mais difícil, deve ser realizada de emergência e em muitos casos necessita ser realizada se maneira convencional por corte ao invés da laparoscopia.

Técnica cirúrgica

ORIENTAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS

A recuperação é geralmente muito rápida e a maioria dos pacientes voltam as suas atividades normais em poucos dias. As orientações abaixo devem ser seguidas para que você tenha pouco desconforto e sua recuperação ocorra sem intercorrências.

  • 1.A vesícula não produz bile, apenas ajuda no seu armazenamento. A produção da bile pelo fígado continua normal após a retirada da vesícula. Você pode comer ou ingerir qualquer alimento que você queira, inclusive alimentos sólidos devendo apenas evitar alimento gordurosos. Alguns pacientes podem apresentar náuseas e vômitos no primeiro dia após a operação devido aos medicamentos e anestésicos recebidos. Se você tiver náuseas e vômitos, ingira somente líquidos em pequenas quantidades de cada vez. Estes sintomas geralmente desaparecem em 1 ou 2 dias, após o organismo eliminar os medicamentos recebidos no hospital.
  • 2.Dor no ombro é freqüente após este tipo de operação. Esta dor é conseqüente à irritação de um nervo que fica entre o abdômen e o tórax. Ela não é devida à torção ou mau jeito no ombro. A dor no ombro geralmente desaparece em poucas horas ou dias. Se ela for intensa, tome o analgésico (remédio para dor) prescrito pelo seu médico.
  • 3.Os cortes (furinhos) serão fechados com pontos e cobertos com curativo (micropore). È comum que ocorra hematoma (“azulado” ou “roxo”) ou pequenos sangramentos. Isto é normal. Não se preocupe. Não retire o micropore, a menos que o seu médico o oriente neste sentido. Pode tomar banho completo e molhar o micropore. Seque o abdômen normalmente com toalha, sem necessidade de cuidados especiais com os cortes. Entretanto, se o corte tiver aparência de infecção (vermelho, com secreção de pus ou com cheiro forte), contacte o seu médico.
  • 4.Respire fundo 3 vezes a cada hora para expandir melhor o seu pulmão e evitar complicações, como febre e pneumonia.
  • 5.Evite ficar muito tempo deitado ou sentado. Procure andar várias vezes ao dia. Pode andar bastante, subir escada ou mesmo correr. Não tem perigo. Assim que você estiver se movimentando rápido e com pouca dor, pode dirigir. Você poderá erguer até 20 kg no primeiro mês e após este período você não tem mais limitações.
  • 6.Em caso de dúvidas ou caso apresente alguma complicação, procure o seu médico.

Consulte sempre um Especialista